Por que você alisou seu cabelo? Por que você cortou? Por que pintou? Por que parou de alisar? Que penteado é esse? Por que seu cabelo está estranho? Por que você não escova? Bem... Várias dessas perguntas eu já ouvi e acredito que não fui e nem serei a única (rsrs). Não seria diferente de outros momentos cotidianos, quando alguém tenta opinar sobre qualquer assunto de uma vida que não é sua, mas acredito que aqui se trata de algo especial. Uma vez ouvi que o cabelo fazia toda a diferença numa mulher, que ele era alma da mulher, que a modelava, e vou dizer que nesse tempo em transição e em contato com algumas pessoas passando pela mesma situação eu pude perceber o quanto uma pequena coisa (cabelo) pode mexer com a autoestima.
Eu gosto de dar uma resumida por tópicos, acho que fica mais objetivo, então vamos lá.
Coisas que você deve saber na transição:
- Não se trata de moda
- Você não deve esperar cachos perfeitos ou um black perfeito
- Não é ter cabelo cacheado, é ter cabelo natural
- Não existe cabelo ruim, existe uma sociedade com padrões distorcidos
- Volume sim! Frizz também
- Se certas opiniões (negativas) vierem junto com creme, adote as (hahaha)
- Você é linda do jeito que você se sente bem
- A gente colhe o que planta, então trate com carinho as suas madeixas
- Você combina com o cabelo que você nasceu, afinal, ele é seu
- Busque inspirações e dicas de outrem
- Não se prenda a padrões
- Seu cabelo cresce (sim!) e encolhe (fator encolhimento)
- Como tirar a química? Vitamina T (tesoura)
Sei que os motivos para entrar na transição são diversos, vale citar alguns aqui: corte químico, cansada da prisão da chapinha, cansada de escovar, cansada do retoque de 3 em 3 meses, o dinheiro pra manter a química, saúde, gravidez, a paixão por cachos ou crespos, ou até mesmo moda, dentre outros. Um cabelo (como roupas, maquiagem, adereços, modos...) transmite mensagem, emoção e opinião. As suas escolhas e opções são uma maneira de expressar a sua trajetória de vida, a sua história e cultura. Escolher ter o cabelo natural é se desprender de padrões impostos por uma sociedade e assumir a sua verdadeira identidade. E não! Não existe cabelo ruim, o que existe é um preconceito enraizado na sociedade, eu aprendi que não devo me julgar melhor a ninguém, valores de avós (rsrs), quanto mais ter um cabelo melhor ou pior que alguém, o meu cabelo é minha identidade, é único, nasce assim apenas na minha cabeça (mesmo que haja outros parecidos), é lindo porque é meu, e além de tudo carrega uma história de descendência e resistência.
Você é bonita quando se sente bonita e a melhor forma de mostrar a sua beleza é você saber que ela é real! Você não deve ser ou fazer algo por alguém (a não ser que seja uma divindade suprema), não deve alisar porque “fulaninho” lhe acha mais bonita com cabelo liso, mas também não deve usar seu cabelo natural porque é uma febre agora. É nosso direito (garantido na constituição) sermos livres, nos expressar como quisermos, usar o cabelo como queremos, da cor que queremos, com o corte que queremos. Use o seu cabelo do jeito que você se sentir bem, você é bela quando sabe disso e não precisa que alguém lhe imponha algo.
Falando dos nossos cachos/crespos... Várias mulheres e negros lutaram por seus direitos, vários foram mortos e muitas vezes chegamos e alisamos um cabelo que mostra toda uma resistência, ou simplesmente jogamos fora a nossa livre escolha de usar o nosso cabelo natural. Falo aqui de carregar uma história de luta em um país onde o preconceito e o racismo é visível. É um orgulho ter o cabelo natural e mandar um beijinho no ombro pra sociedade. Sim, eu nasci assim, e eu me aceito assim. E você não precisa ter um cabelo perfeito, na verdade acho que ele nem existe (hahaha), a beleza muitas vezes está na imperfeição e nas diferenças. Imagina se todo mundo tivesse o mesmo cabelo? Ou o mesmo nariz? Ou os mesmos olhos? Que sem graça seria!
A transição não é um momento fácil, é momento de reavaliar e reconstruir parâmetros, é uma fase complicada, trabalhosa e cheia de altos e baixos, uma montanha-russa de emoções e sensações. É necessário ter muita paciência, pois a única solução para acabar de vez com a química é a vitamina T (tesoura), mas como já falei que somos livres, você não deve cortar seu cabelo porque alguém te disse pra cortar, mas sim porque você quer, afinal o cabelo é seu e as consequências do que você faz com ele serão totalmente suas. Talvez essa seja uma fase de conhecimento e aceitação pra você, então se jogue, não deixe de aprender, não deixe de se amar a cada dia mais. Sim, nosso cabelo é especial, tem mais frizz do que os outros, é mais seco (ou não, tem as exceções né?), pode ter um volumão que você não gosta, mas há vários produtos, formas de lidar e técnicas (como o low e no poo) que você pode experimentar e aderir ao que você e o seu cabelo gostam.
Enfim, para terminar quero deixar aqui duas dicas chaves:
1 Se ame, pois o amor próprio abre várias outras portas
2 Respeite a si mesma e aos outros, respeite a cultura, o modo de ser e as escolhas. Respeite as lisas, onduladas, cacheadas, crespas, carecas, alisadas... Elas se sentem bem assim, e tem todo o direito a livre expressão.
Aline Oliveira Silva
Dona de um 3b/3c. Estudante de economia na UFPE, cristã convicta, apaixonada por cachos, cabelos, música e pelas coisas simples da vida.
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